quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Um alter-ego politicamente incorreto

Conheci o Jota em 1994, quando fomos vizinhos em um apart hotel para duros, ou, como dizia a telefonista local, um "frete". Eu tinha ido morar naquele moquifo devido a dificuldades financeiras decorrentes de uma separação. Mas Jota estava em seu habitat natural. Foi um ombro amigo em uma hora difícil. Me deu conselhos sobre o melhor inseticida para matar as francesinhas e dicas de como evitar desastres amorosos.

Um dia, em 1998, ele me ligou e disse que tinha feito um samba. Quando fui encontrá-lo, na semana seguinte, já eram dois e bem interessantes. A cada encontro, ele me mostrava uma idéia nova. Até que, um dia, eu falei que era hora de fazermos um disco.

Finalmente, em novembro de 2007, o Canalha me contou que havia recebido uma indenização trabalhista e que agora tínhamos dinheiro para produzir seu primeiro disco. Achei a história estranha, pois sua maior fonte de renda sempre foram os 50% que cobra adiantado por serviços de despachante, que nunca realiza.

Diante da cifra modesta, balancei a cabeça, duvidando da viabilidade da produção. Aí, mais uma vez, o Jota me surpreendeu. Tirou do bolso uma lista de músicos e disse que, com aqueles ali, dava pra fazer o disco. Começei a ler:

-violão: Mário
-cavaquinho: Orfeu

Pelo canto do olho, pude ver o risinho do meu compadre…

-percussão: Sunda, Locha e Birunda.

Sem perguntar mais nada, guardei o papel no bolso e aceitei a encomenda. Mas, na hora H, resolvi chamar a turma que entende do riscado para caprichar no disco do Jota.

Assim, fomos vestindo caprichosamente sambas de breque, sincopado, partido alto, samba-choro e dolente, numa diversidade musical que acompanha a variedade de temas. A crônica do boteco e do mundo do samba, a diversão das classes populares, a picaretagem das ONGs, a vida conjugal em seus vários aspectos, a transformação estética das mulheres quando bebemos. Tudo tratado com humor politicamente incorreto e delicioso.


No repertório, não poderia faltar Noel Rosa, ídolo maior do Canalha. O samba Mulher indigesta (1932) ganhou um versinho extra, homenageando as mulheres encrenqueiras dos sambistas de hoje em dia.

Agora, o oráculo das tabernas cariocas, Jota Canalha, apresentará a você suas previsões politicamente incorretas. Seja bem vindo e divirta-se.

Henrique Cazes

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